Como fui parar na Europa durante a minha Graduação!

A primeira coisa que tenho a dizer é: esteja preparado! Você nunca sabe em que momento vai surgir uma grande oportunidade na sua vida! Por Mércia Geres

A minha grande oportunidade surgiu durante um processo seletivo para uma vaga de estágio. Este processo me levou para a Europa. Quer saber como?

Certa vez, eu, filha do Sr. Waldir e D. Lili (ele dono de uma oficina mecânica e ela de um bazar), sentada atrás do balcão da loja da minha mãe na Vila Santa Catarina, pensei: O mundo é tão grande. Deve haver outra forma de se viver, tantos lugares para conhecer, outras formas de se alimentar, se vestir e pensar…

Que coisas você, leitor, está deixando de fora da sua vida?

Nesta época, eu era uma adolescente que cursava o ensino médio em uma escola pública. Mas, não tinha entre familiares e amigos pessoas que tivessem viajado para fora do Brasil e talvez por este motivo não havia feito de uma viagem ao exterior um objetivo a ser alcançado.

“Sorte é quando preparação encontra oportunidade”

Passados alguns anos, já como universitária cursando Administração de Empresas, participei de um processo seletivo cuja última fase era uma dinâmica de grupo com a participação do gestor da área. Para quem não sabe, todos os candidatos se apresentam, participam de atividades propostas pela área de recursos humanos da empresa enquanto são observados pelo gestor da área em que há vaga disponível para contratação.

Após o término da dinâmica, fui abordada por um candidato, aluno do curso de Economia da mesma faculdade que eu. Ele foi logo me dizendo que se impressionou com a forma pela qual eu me apresentei, organizei as ideias e usei as palavras durante as atividades propostas.  Ou seja, uma habilidade que eu nem sabia que eu possuía havia chamado a atenção de um outro participante do processo seletivo. Nós dois fomos selecionados e começamos a trabalhar em setores diferentes dentro da mesma diretoria.

Se você acredita, não desista diante do primeiro não!

Passado algum tempo, este colega comentou sobre uma viagem que a turma de Economia estava programando para a Europa e que aconteceria no final daquele ano. De imediato, eu disse a ele que havia uma diferença muito grande entre nós dois: o estágio para ele era uma forma de cumprir uma exigência da faculdade enquanto que para mim era uma fonte de renda para custear meu transporte, livros e alimentação. Logo, eu não teria recursos para participar da viagem. Meus pais também não teriam condições de custeá-la para mim.

Ele não se deu por vencido e voltou a me abordar no dia seguinte.

Planejamento de curto, médio e longo prazo!

Ele sabia quanto eu ganhava porque era o mesmo salário que o dele. Então, ele me apresentou uma planilha e alguns argumentos:

– Fiz umas contas e a viagem deve custar x. (não me lembro com exatidão dos valores da época) – Você não compra livros todo mês, certo? Condução e alimentação não consomem todo o seu salário. Se você conseguir economizar x/12 dólares por mês, quero dizer, se todas as vezes que você receber seu salário você comprar o equivalente a x/12 dólares e viver com o que sobrar você consegue ir à viagem. Será que você consegue?

Estava lançado um desafio e meu primeiro contato real com planejamento financeiro de curto, médio e longo prazo. Metas claras de curto prazo e um objetivo maior a ser alcançado. Mil coisas poderiam acontecer durante aquela data e o dia da viagem, mas eu tinha um objetivo de longo prazo que se tornara atingível ao ser dividido em metas mensais menores.

Diferença entre o Previsto versus Real

Aceitei o desafio e comecei a guardar os dólares como combinamos. A cada vez que eu recebia meu salário, separava os reais necessários para a compra da moeda estrangeira e vivia com o que sobrava. Como deve ser do conhecimento do leitor, o montante em dólares era fixo, mas o valor correspondente em reais oscilava conforme a cotação da moeda estrangeira. Sendo assim, quando o dólar se valorizava, eu precisava de mais reais para comprar meus x/12 dólares e precisava viver com o que sobrava.

Lembro-me que em determinado mês, cheguei a comprar um livro em sociedade com um amigo de classe. Ele pagou metade do valor e eu a outra metade. Desta forma, adquirimos um livro para ser usado em conjunto. No mês seguinte compramos o outro exemplar. Foi a maneira que encontrei para me manter fiel ao cumprimento da meta mensal.

Conforme a viagem foi se aproximando, algumas mudanças foram acontecendo e a tornando menos viável para mim. Começaram as reuniões entre os alunos que participariam para decidir, companhia aérea, se nos hospedaríamos em hotel ou albergue, custo do transporte entre uma cidade e outra e os locais a serem visitados, etc. O valor total da viagem se elevou e eu precisava aumentar o montante mensal a ser poupado em dólares para fazer jus a esta diferença. Ajustei minhas economias e segui realizando as metas mensais.  

Quando a data de pagar a viagem chegou eu tinha o dinheiro necessário. Primeira etapa do projeto de viagem cumprida.

Importância da rede de apoio

Nesta ocasião, minha mãe me disse que eu tinha uma poupança que me permitiria comprar um carro, o que seria bem importante para mim pois eu usava transporte público para ir para a faculdade e voltava de carona com meu pai que saía da região do Aeroporto de Congonhas e se dirigia até a USP para me buscar. Ele fez isso todas as noites durante 5 anos, sem exceção. (Gratidão eterna ao meu pai por ter apoiado meus estudos pagando dois anos de cursinho para que eu pudesse passar no vestibular da FUVEST e por todos os dias em que foi me buscar.)

Conversei com alguns colegas de trabalho. Nesta hora é importante nos fortalecermos através de rede de apoio.  Um deles me disse que eu teria muitos carros na vida, mas que mesmo que eu tivesse outras oportunidades de viajar, não seria como aquela que eu faria aos 22 anos de idade e que poderia abrir muitas portas para mim.  Já o carro, não contribuiria muito para minha formação.

Uma outra pessoa me disse que “a oportunidade é uma mulher que só tem cabelo na frente. Ou você a agarra quando ela vem, ou você a perde depois que ela passa”.

O sonho estava lá dentro de mim, plantado e enraizado e eu usei de todas as minhas forças para fazer dele uma realidade.

Quando a gente acredita no sonho e dá o melhor de nós para atingí-lo tudo de que precisamos também chega até nós.

Quando chegou o dia da viagem, minha irmã me deu alguns dólares que ela resolveu comprar por conta própria sem me dizer nada. Nem acreditei quando recebi aquelas notas. Meu amigo havia me dito que eu precisaria de US$ 1.000,00 (Mil dólares) para cobrir as despesas com alimentação durante o período da viagem. Eu tinha parte deste montante, cerca de uns US$ 700,00 mas estava decidida a viajar assim mesmo e não falei nada pra ninguém. Agora, eu poderia viajar tranquila com o adicional que a minha irmã me deu. Gratidão à minha irmã, que sempre foi como uma mãe para mim.

Esta não foi a única ajuda que eu recebi: tomei emprestado casados de lã de uma prima da minha mãe e ganhei uma passagem de trem do meu amigo que eu só poderia usar depois do primeiro mês de viagem. Gratidão a eles também.

“Quando sua mente se abre para uma nova ideia, nunca mais ela volta a ter o tamanho original

A viagem foi maravilhosa: vi e senti a neve pela primeira vez; fiz novos amigos, conheci paisagens, monumentos, museus, artistas, empresas, novos sabores, novos modos de vida e os seguintes países: Holanda, Bélgica, Suíça, França, Alemanha, Inglaterra e Espanha. Voltei muito enriquecida como pessoa e com novos objetivos: aperfeiçoar meu inglês e ir aos Estados Unidos que, segundo meu amigo, tinha um jeitão totalmente diferente da Europa.

Voltei para cursar o último ano de faculdade e dar sequência ao meu estágio.

Eu saí totalmente da minha zona de conforto, do lugar comum, daquilo que eu já conhecia e me lancei.

Convido o leitor a fazer o mesmo!

Acredite, realize e agradeça!

Boa sorte na sua jornada!

Tenho certeza de que seja ela qual for, você voltará transformado para melhor!

Gratidão a todos que participaram direta ou indiretamente desta história!

Mércia Maria Saboia Bezerra Geres – Consultora/Mentora

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